quarta-feira, 24 de julho de 2013

HD usada: como avaliar as ofertas escapando do japonês "Takaro"

Mercado de HD usada é um mundo diferente. Normalmente você pode encontrar muitas ofertas interessantes ao lado de ofertas completamente fora do razoável.

Começando pela valorização excessiva da moto carburada que traz o mito do "potato potato potato", mas mesmo assim será uma motocicleta antiga, com rodagem alta e problemas do uso ou pelo contrário, com rodagem baixa com problemas pela falta de uso. Normalmente com o preço pedido por uma carburada você consegue uma injetada dois ou três anos mais novas (em alguns casos, como pinturas comemorativas ou motores mais tradicionais, essa diferença pode ser de cinco a dez anos mais novas).

Além disso temos a customização que é muito valorizada por quem faz, mas decididamente importa muito pouco para quem não tem as preferências de quem customizou, e quanto mais específica, mais cara para fazer e mais difícil ser vendida.

Achar o preço justo é tarefa complicada para vendedor e comprador. Já postei sobre esse mercado pela ótica do vendedor (http://wolfmann-hd.blogspot.com.br/2011/11/como-anda-o-mercado-de-hd-usada.html) e recebo muitas perguntas sobre a compra a ser feita: se o preço pedido é justo, a escolha a ser feita entre dois modelos, como saber se a moto está em boas condições e coisas do gênero.

Falar sobre estado da moto sem ver é coisa para adivinho. Recomendo fortemente a compra de motos usadas, principalmente quando se conhece o vendedor porque pelo dono você sabe como foi mantida a moto até agora.

Mas nem todo mundo circula na comunidade, muitos estão na primeira HD e pedem referências ou forma de olhar a moto para saber se vale o preço pedido. Sugiro levar um mecânico junto se você não tem experiência para avaliar o estado geral. Se não tiver um mecânico de confiança, contrate um: tem vários mecânicos que podem prestar assessoria.

Se ainda assim, não tiver como e for sozinho verifique o mínimo necessário: procure por marcas no quadro, olhe bem os pneus procurando o TWI (marca que indica o final da vida útil), veja se ainda são os pneus originais (Dunlop HD ou Michelin Scorcher), passe a mão pela pintura para sentir se existem descontinuidades, ligue a moto e veja se a  partida está muito difícil (bateria em fim de vida útil), dê uma volta e verifique se a quilometragem condiz com o desgaste da moto (baixa quilometragem com pneus muito gastos não é boa referência para a venda).

Pneus gastos, bateria em fim de vida útil ou quilometragem próxima de manutenção preventiva onerosa devem ser levados em conta na hora de negociar: um jogo de pneus dificilmente custará menos de R$1000, uma bateria vai ficar em cerca de R$500 e uma troca de tensores da corrente de comando é coisa para R$2000.

Dar valor aos acessórios que não interessam também vale na hora de negociar. Do mesmo jeito que o vendedor gastou para colocá-los, você vai gastar para tirá-los. Você pode até conseguir renegociar esses acessórios que não te interessam, mas é melhor falar para o vendedor que eles não interessam e que irão representar custo para você e dê opção ao vendedor de retirá-los para revender. Desse jeito você não herda o que não quer e mostra que prefere um valor mais justo pela moto do que o valor do anúncio, sem esquecer de pedir os equipamentos originais, senão você vai ter que gastar para retirar o que não te serve e investir antes do que pretendia na moto que você está comprando.

Já vi pinturas sendo vendidas como acessórios, mas nem todo mundo está disposto a pagar por Flames se deseja customizar na linha Skull. E isso vale para um série de acessórios de catálogo que simplesmente não serão valorizadas por quem não aprecia a linha adotada na customização.

Do mesmo modo, avalie os acessórios que estão sendo oferecidos. Um escapamento e filtro de ar esportivos custam algo perto de R$3500, mas é preço do acessório novo e não podem servir como parâmetro para avaliar algo que está usado. Do mesmo modo que a moto, os acessórios depreciam com o uso e por mais que você queira o escape que está na moto, não acredito que você esteja disposto a pagar preço de escape novo por um escape que já tenha uso.

Alterações mecânicas devem ser muito bem avaliadas: uma transformação mal feita é fonte inesgotável de problemas, como exemplo as transformações das 883 em 1200. De 2009 em diante deve ser feita modificando o pistão, já que esse pistão não aceita mais usinagens, com risco de trinca e perder o motor. Se a referência não for boa, melhor continuar procurando.

Em resumo, procure uma moto que te agrade ou o mais próximo do original: compare valores e o que é oferecido nos anúncios e proponha algo justo. Não vale a pena buscar um "negócio da china" se tiver encontrado o que você procura... pode não encontrar novamente.

Um exemplo prático: Sportster 883R: zero km custa R$29900 e precisa ser encomendada já que o modelo mais encontrado é a Iron. As 2008 (antes da mudança dos pistões e com mais facilidade de serem modificadas para 1200) são encontradas com valores entre R$19700 e R$44900 (fonte: www.moto.com.br) e já deve contar com a possibilidade de gastar com bateria nova.

Valor razoável para depreciação nesses 5 anos: 35% o que deixa a moto com preço perto dos R$19500 (tabela FIPE R$20475) e as ofertas mais próximas (R$19700/R$20000) são motos muito pouco modificadas, com baixa quilometragem (entre 10000 e 20000 kms), mas com muitas acessórios inúteis para mim como banco confort, sissy bar ou seca suvaco que não valem como atrativos, pelo contrário: terei despesa para deixar a moto ao meu gosto.

A primeira da lista que me interessa (amortecedor PS, escape V&H, comando avançado) é oferecida por R$21500, 10% acima do preço depreciado e com 28000 kms rodados. Dependendo do estado dos pneus e bateria, já terá um custo de R$1500 para trocar, deixa de gastar pelo menos R$4000 com escape/comando/amortecedor e é a moto com preço justo que aparece na lista do moto.com.

Olhando as mais caras: a oferta de R$ 44900 é uma customização bastante pessoal: pintura fosca, escape e filtro esportivo (não fala sobre dispositivo para remapear), mesa larga sem paralama dianteiro, placa lateral, banco de molas, comando avançado, suspensão progressive, pouco rodada (mas os pneus não são os originais) e placa lateral (o que pode ser um problema para licenciar). Interessante, mas muito além do que faria em uma 883R.

A oferta de R$30000 é uma moto que conheço e tem uma customização muito pessoal, baseada nas Knuckle Head, meio seca e outros acessórios vintage. Para quem gosta, é um trabalho muito bem feito e muito bem conservada. Não dá para avaliar bem por ser realmente uma customização de gosto muito pessoal: quem gosta valoriza, quem não gosta coloca defeito.

A oferta de R$27500 é uma customização que não valorizo: guidão não me agrada, assim como filtro de ar e a frente com aspecto nipônico, definitivamente fora de valor para a minha avaliação. Em seguida temos uma oferta de R$26000 que investiu muito na estética e pouco na parte mecânica: com filtro e escape sem fazer referência a remapeamento, pintura exclusiva e mesa larga lembra a Sportster 48, mas sem o comando avançado e com um guidão barrinha que forçou a realocação do velocímetro, vai custar caro para refazer e caro para comprar.

O restante das ofertas sai do preço ideal: algumas tem escape/filtro, banco de molas e guidão modificado, outras apenas a baixa quilometragem como atrativos, mas nada que seja interessante do meu ponto de vista.

Apenas como comparação, a Sportster do Kahuna foi colocada à venda em março desse ano (não sei se já foi vendida) por R$26000 (nem sei se ele ainda mantém esse preço se continuar à venda): 2008 com comando avançado, escape V&H, suspensão PS na dianteira e pneumática (original Road King) na traseira, remapeamento feito com SEST, mas com um detalhe diferencial: foi transformada para 1200, com nova embreagem para acompanhar o novo motor e mapa ajustado em dinamômetro. A pintura é customizada, usa mini ape Roland Sands e placa lateral.

Por mais que não valorize esses últimos detalhes e provavelmente voltasse ao original (guidão e placa), ainda assim a modificação mecânica bem feita é um investimento alto que deve ser valorizado, principalmente por quem compre já pensando nisso. Tempo e dinheiro a serem gastos que serão convertidos em uso imediato compensam a diferença de pouco mais de 30% a mais no valor ideal para uma R 2008, portanto justo para quem procura uma Sportster para modificar.

Se não valeria a pena investir mais um pouco e comprar a moto zero ou procurar outro modelo é assunto para outro tópico.


5 comentários:

WIEZOREK disse...

E pelo post anterior, quase podemos dizer que não vai mais uma alemã para a garage.

ótimo texto, sempre leio teu blog e de mais alguns camaradas, daqui uns meses pretendo ter minha primeira hd, e esses post ajudam muito. grande abraço

Wiezorek.

Bayer // Old Dog disse...

Muito bem colocado, Wolfmann.

Essa semana um colega comprou uma Heritage, que vinha com escapamento aberto. O vendedor queria cobrar a mais pelo acessório, e meu amigo fez a seguinte pergunta:

- Você também vai me dar a ponteira original com catalisador para que eu possa fazer o controlar? Porque do contrário você não está me DANDO um acessório, e sim uma despesa de ter que arrumar uma ponteira original.

Dan Morel disse...

Muito bem colocado.... na verdade hoje existe de fato uma inflação para o mercado de usadas...que acredito que não seja nada aleem de uma "bolha" que logo vai estourar.

no meu caso em particular, procurei o modelo que queria e do jeito que queria (Sportster 883 Low, já que prefiro a moto mais baixa e o guidão mais laid back)....e estava como iria deixa-la...original e apenas com o comando avançado....gastei nela justos 19.000 para uma moto com 6500 km.

dos acessórios, aproveitei o escape SE que tinha na Night Train...e comprei um sissy bar (os espelhos quadrados tbm são reaproveitados que estavam guardados no armário).

basta procurar, com bastante calma que é possivel comprar motos boas com preços honestos

Anônimo disse...

Wolf, Dúvidas cruéis na compra de uma Road king . Surgem muitos anuncios desta moto na net. Fico preocupado. É um problema de aceitação do mercado ou é por causa do novo modelo 2014 que está chegando?
Outra questão. Comprar uma 2013 com 5000km ou menos por 42k 45k ou uma zero 2014 com todos os atribudos Rushmore por 63k?

wolfmann disse...

Estamos passando por uma nova "febre das Electras", desta vez mais "grave" porque atinge toda a família touring.

O maior volume de motos usadas no mercado com certeza é originado no desejo de trocar a moto usada por uma zero pelos diversos motivos que a gente já conhece: desde a motivação tecnológica até a motivação de status.

Sobre a dúvida entre qual modelo comprar, só você e seu bolso para decidirem.

Estivesse eu a procura de uma Road King e tivesse condição de comprar a moto zero, daria preferência à zero: o ABS Reflex (ABS conjugado) e o motor 103 High Output (com maior torque em baixa rotação) é um diferencial que me atrai.

O que isso representa para o uso da moto? Você tem uma moto mais esperta no trânsito, onde a baixa rotação te entrega uma moto com respostas mais rápidas, e mais segura na estrada e situações de emergência com o ABS mais eficiente.

Ponto negativo nessa escolha é a desvalorização absoluta (percentual de 62k sempre será maior que o percentual de 45k) e os defeitos que as primeiras séries de HD costumam trazer até serem reparados com a experiência de uso dos proprietários.

É uma escolha difícil.