quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

virei um dinossauro...

Um rapaz, com sua Iron encostou no calibrador do posto no mesmo momento em que estava chegando no posto. Para quem já viu a moto no posto, sabe que estaciono do lado do calibrador.

Desci, tirei capacete, luva e ia me dirigindo para o escritório como faço sempre e o rapaz decidiu puxar conversa. Pergunta da moto, do casaco que estava vestindo (um casaco que me acompanha há quase tanto tempo que a Fat) e dos patches do HOG preso nas mangas.

Explica daqui, conversa dali e o colega se mostrou impressionado com o fato de estar com a minha HD há mais de 8 anos. Para ele isso era coisa impensável pois já comprou a Iron pensando em trocá-la em no máximo dois anos.

Foi exatamente isso que mudou com a operação sob comando da fábrica: o perfil do proprietário de HD.

A operação pela fábrica trouxe modelos novos (Street Glide, Sportster 48, Dyna Low Rider, Softail Breakout), novas tecnologias (Rushmore Project, ABS em todo o catálogo, nova comunicação eletrônica) e corrigiu algumas políticas ruins do Grupo Izzo que mostrou o potencial de alguns modelos com preços de venda acima da realidade como foi o caso da VRSC (Night Rod e Muscle).

Junte a isso a rápida expansão da rede de dealers e o marketing do life style com os diversos eventos (Harley Days, HOG Rally, comemoração de aniversário da marca) e temos o novo consumidor HD.

Esse novo consumidor é bastante diferente do consumidor do tempo que comprei a minha HD. Não tem vivência com a manutenção da moto, deixando a cargo da oficina do dealer ou de oficinas especializadas de renome, compra muita coisa da marca e procura estar "up to date com o life style" enquanto o consumidor antigo tinha mais ligação com a moto evitando maiores ligações com a marca.

A marca ganhou ainda mais visibilidade e status no Brasil com esse novo consumidor, mostrando que a HDMC Brasil faz um excelente trabalho do ponto de vista gerencial.

E não adianta espernear contra essa mudança de perfil. O perfil anterior de proprietário está em extinção e cada vez mais será natural a presença do life style entre os proprietários de HD no Brasil.

Isso não me atrapalha, acho que não atrapalha a maioria dos colegas e amigos com o mesmo perfil que o meu, mas limita o espaço para os "dinossauros" poderem conviver pelo simples fato que os "dinossauros" não se sentem a vontade no meio de tantos Harley fãs boys.

Será preciso tolerar coletes de grupos que aparecem em um piscar de olhos, cosplay do SOA e escutar comentários onde motores Twin Cam são confundidos com Evos das Sporsters ou confusão entre Fat Boy com cabeça de touro e uma RK, para tomar uma cerveja em paz sem se aborrecer.

19 comentários:

Bayer // Old Dog disse...

Perfeito, expressou um sentimento que eu tenho e não sabia bem como explicar. A frase:

"compra muita coisa da marca e procura estar 'up to date com o life style' enquanto o consumidor antigo tinha mais ligação com a moto evitando maiores ligações com a marca"

diz tudo.

Estou com 36, indo pra 37, e já me sinto um dinossauro também. Comprei a XR pela "excentricidade" da moto, e tenho uma relação parecida com a que você tem com a Fat. Moto pra andar, gastar, se possível reconstruir e andar de novo.

Já o novato me pergunta se ele deve trocar a Fat Boy dele 2014 pela 2015...

Badá disse...

Não me atrapalha.

Badá

Roque disse...

Meu pai, harleyro de 1937, sempre dizia que a idade nunca vem só. Trás sempre companhia.
No nosso caso, trás a realidade de nos transformarmos em "dinossauros", num país que não respeita a antiguidade nem cultua a experiência.

Anônimo disse...

O maior exemplo disso, foi quando minha carburada me deixou na mão tempos atrás. Sem guincho e sem como conseguir ajuda, liguei pra HD local pedindo ajuda. Prontamente a van chegou (estava bem perto) e quando eles viram o Mikuni, me dispensou dizendo que se ficasse com a moto e tivesse problema, não teria como arrumar peças... Mas enfim esse life style veio junto com as EFI e não tem espaço para muita estória.

Grande abraço!

Caio Bogoni (EgaBog) disse...

Creio que uma heterogeneidade é sempre importante, assim como tem gente gente chata que usa bota de couro e jaqueta 24/7, tem os noobs que gostam de falar besteira.

Quero mais é que vendam cada vez mais motos, assim teremos mais gente legal, pois é com esses caras que eu quero trocar uma idéia, não com os xaropes.

Anônimo disse...

Cheguei aqui indicado pelo Bayer. Tenho uma Heritage com mecânica twin cam 88, simplesmente porque adoro esse motor! Coloquei um carburador nela. Porque? Porque sim! Porque eu queria. Uma vez esse assunto gerou uma puta discussão numa roda de bar, e um amigo meu encerrou a discussão dizendo o seguinte: - Desistam de tentar entender ele. Ele é um dinossauro.
Lendo seu post lembrei dessa história! rss

Headhunter disse...

Excelente texto, como sempre!

Tovar disse...

Em compensação minha Fat carburada pode ser consertada longe da concessionária onde nunca levei. Já fiz pequeno reparo
em casa, voltei de Tiradentes com vazamento na cuba mas não fiquei na estrada. Se fosse injetada teria de rebocar 300 kms até a concessionária mais próxima. Mesmo com peças por perto Mr Wolfmann relatou alguma dificuldade em reparar a injeção. Agora uma concessionária dizer que não vai conseguir reparar um carburador é o fim da picada.
Gostei do termo "Cosplay do SOA".

JonatasCD disse...

eu sou desses newcomers.
comprei minha Iron há quase 4 meses, mas não penso em trocar.
penso em deixá-la mais confortável para os 100km diários que percorro com ela.
penso em aprender a domar a mecânica dela.
penso em eu ser quem mais conhece sobre ela.

não quero ser ponto fora da curva, só quero rodar

Luis Alvarez disse...

Uma vez estava descendo a graciosa no Paraná, Quando de repente levei um baita tombo, dei bobeira de ficar mirando a paisagem.... regra básica do motociclismo..

Enfim, fui na harley de floripa buscar um pedal de marcha novo, cheguei lá e a peça tava um absurdo de cara, mas tudo bem, harley é cara por natureza...

Não bastando a peça cara, o dealer ficou tentando me empurrar peça sem parar, tava começando a ficar chato já, a Harley propicia esse estilo consumista dentro da própria loja.

Marc disse...

Aham, concordo. Mas também acho bem bonitinho você falar que é mais importante estar ligado mais à moto e menos à marca, e quando você vai ver as fotos do seu blog, são todas (ou quase) de passeios ou eventos ligados ao HOG…

E outra, não sabia que eu tenho que ser um especialista em mecânica pra pilotar uma Harley. Qual o problema de eu levar minha moto no dealer ou em especializadas? Tenho certeza que vocês são todos mecânicos experts e nunca levam nem o próprio carro a oficinas mecânicas, desmontam e remontam o bicho em casa mesmo. Como eu não sou, deixa eu levar minha moto onde eu quiser, ok? Menos blá blá blá e mais estrada, gurizada (e velharada) de fim de semana. Compram Harley, adoram criticar outros que não pensam igual a vocês, mas vão trabalhar de carro que eu sei, “pq não dá pra confiar na meteorologia”…

wolfmann disse...

Marc, não posso falar por todos que leem e comentam no Blog, mas falando por mim e no que se refere a mim em seu comentário: eu voltei a rodar em grupo com o HOG RJ, fiz grandes amigos que me acompanham até hoje.

Os passeios do HOG RJ são abertos a qualquer um que tenha um amigo que ande de HD ou tenha HD, postar sobre isso não fere a privacidade de ninguém , ao contrário de outros passeios que faço em grupos menores onde, por uma questão de uso do senso comum, se deve presevar a privacidade.

Não ganho nada para defender a marca, acho o pós venda ruim e nada disso é novidade para quem acompanha o Blog.

Minha ligação com a moto e não com a marca vem do uso, com chuva ou não, dos problema que precisei resolver porque o pós venda é ruim e das estradas que já tive o prazer de passar com a moto.

Se você tiver curiosidade em ler postagens antigas, verá que a minha moto viajou pouco nesses últimos dois anos, mas eu continuei viajando com os amigos que fiz no HOG RJ e fora dele, com a minha família e mantendo um estilo de vida que gosto, ao invés de tentar viver o life style do marketing.

Não sou um doutrinador ou dono da verdade, compartilho experiências por isso estou sempre aprendendo com a convivência real e virtual.

Eu me considero um dinossauro porque vejo a motivação dos calouros nasce do marketing ( e sim, eu também passei pela fase de Harley fã boy quando comprei a moto) e não evolui, ficando girando sempre em torno da marca e não se traduz em um rede de convivência como costumava ser.

Você pode usar sua moto do jeito que achar melhor. É sua moto. Fique a vontade.

Eu faço o mesmo.

Fúlvio disse...

O texto consegue exprimir exatamente o que tenho observado e não conseguia colocar em palavras.
Acredito que que em todo meio as coisas funcionem mais ou menos desta forma, alguns apaixonados, outros preocupados com o status e assim por diante; desejar que todos tivessem a mesma relação que temos com a motocicleta, seria uma Utopia!
Parabéns pelo texto!

PHD disse...

Que tal um MC Dinossauro iriamos nos dar bem, kkkkk creio. Sou um tremendo dinossauro. Minha primeira moto comprei zero Km 1978, era uma simples CB 360 que me fez muito feliz por 70.000 Km, só nesta amiga, nas curvas do Litoral Norte, nas Rodovias; Osvaldo Cruz, Tamoios, Rio-Santos, Dutra e Dom Pedro I, de Taubaté a Araras-SP e vice-versa, por alguns anos de preferência a noite com chuva e sem chuva. Depois de diversas outras a última foi a longos anos uma TÉNÉRÉ 600 e agora após fazer o test ride da Honda, Ducati, BMW, Triumph, resolvi fazer o da Harley e só me apaixonei pela IRON, sei que treme, bate a suspensão não faz curvas com grande limite, trepida a mai de 12o mas foi paixão paixão a primeira tocada e porque um dinossauro precisa de controle de tração, basta conhecer os limites de sua máquina e de seus companheiros e respeitá-los.

Saudações fraternas a todos. Forte abraço.

CESAR disse...

Bom, não sou um proprietário bem aventurado de uma HARLEY DAVIDSON, mas
tenho 02 motos...duas intruders suzuki....não chegam ao valor das suas HARLEY'S mas acho que vocês deveriam andar mais de moto e sim ter a preocupação de conhecer sua moto...acho que realmente estes novos proprietários de motos...não interessando qual for...não conhecem a própria moto...não sabem andar nela...eis o erro de vocês...motociclistas de boutique....motoqueiros de fim de semana...acho uma falha descomunal achar que andar de moto é simplesmente sair de manhã para o encontro da HOG e voltar e achar qeu andaram de moto....tendo suas motos tão polidas e brilhantes...coloquem suas motos nas ruas e nas estradas...e tirem este rotulo que adquiriram de COXINHAS...patrocinadores da HARLEY...Gostaria de saber onde vocês porque são mais importantes com suas jaquetas da HARLEY do eu com a minha gosta de estrada, chuva e vento...fica o toque...ANDE MAIS E CONHEÇA MAIS A SUA MOTO!!! E CURTA DE VERDADE O "NOSSO LIFE STYLE"...

wolfmann disse...

Cesar, não sei se o seu comentário é generalista ou dirigido a mim.

No que tange a maioria dos proprietários, principalmente à grande maioria dos membros do HOG, eu concordo com as suas críticas e voto contigo: se você gosta de andar de moto, o café da manhã é o lugar menos indicado para se ir em um sábado pela manhã.

Se o seu comentário vem dirigido à mim, só posso te dizer que eu ando de moto todo o dia, conheço minha moto e por isso mesmo gosto muito dela. Basta ler postagens antigas e mais recentes para comprovar o que estou escrevendo.

Agora mesmo estou em uma fase de desapego da minha Fat porque comprei outra HD, que vem me agradando tanto ou mais que a Fat agradou ao longo desses 10 anos.

Unknown disse...

Impressionante esse post! Tenho 45 e piloto desde os 14 quando capacete só se usava na estrada. Comecei na cg 125 de 4 marchas do pai e já me apaixonei. Aos 23 comprei minha primeira dama, a Gertrudes: uma Lambretta 66 que me dói até hoje por ter vendido. Eu consertava tudo nela. Todo fds abria as tampas e esmerava na limpeza e revisão. Depois tive várias motos, sempre com nomes de mulheres. Hoje tenho a Pat Blue, uma vstrom mil 2004 e minha esposa tem um carro. Fui a um congresso dar uma palestra em Goiânia. Claro que fui na Pat. 1.300 km de delícias no lombo dela cortando a Bahia desde vitória da conquista onde moro. Agora estou na compra de uma HD. E será EVO carburada.
Entendo perfeitamente suas colocações. Quando passeio com amigos, me torno o mecânico que sempre ajeita os defeitos que aparecem. É minha paixão. E percebo muitas vezes essa disposição ao estrelismo nos atuais motociclistas, que não se deixam chamar motoqueiros, coisa que sempre fui.

Unknown disse...

Olha, eu tbm nao tenho ligação com a marca, e sim com a moto! Tive uma Dyna, a moto era linda e muito boa, depois de um ano e meio descobri que a Fat boy é que era a MINHA moto. Pretendo ficar com ela, não penso em trocar por outra. Pode até ser que um dia outra moto desperte minha vontade de ter outra, mas por enquanto não me vejo andando com outra moto. Sendo assim posso me considerar um dinossauro?kkk sou bem novo, tenho HD a 2 anos mas ando de moto desde os 14... Andei de Honda Bros tive Ténéré 250 e etc. Conheço um pouco da cultura biker, mas não me incomoda a galera nova andando de moto, trocando de moto e tal, não me aborreço quando alguém confunde uma Dyna switchback com uma Road King, afinal eu tbm tive que aprender muita coisa, e ainda falo muita besteira, depois procuro me informar. O negócio é que esses novos consumidores são os futuros motociclistas, ou motoqueiros (pra mim é a mesma coisa) então vamos ser mais legais com as pessoas.

Unknown disse...

Tenho 48 anos, comecei a andar de moto aos 17 anos na minha primeira moto, uma DT 180 ano 1983. De lá para cá, passei por todos os estilos de motos, cilindradas, potência, etc. É pra mim o que mais importa é o sentimento que essas máquinas despertam. Portanto, ter uma motocicleta por status, modinha, etc, não reflete nada, não traz relevância ou sentido no universo das duas rodas. Claro que ninguém precisa ter um motivo"justo" para comprar algo, mas me refiro ao fato de nos últimos anos, a minha percepção através de comentários e atitudes que tenho visto, mostrar uma queda acentuada de certos valores, culturas e um aumento do ter por ter, do ser o que importa agora, desvalorizando o passado, ignorando o fato de que as gerações passadas foram quem criou e desenvolveu o que existe de mais moderno e desejado hoje. Cabendo as novas gerações herdeiras conduzirem essa herança com respeito e da melhor forma possível. Acredito que se todos passassem a conhecer a história que antecede a nossa existência, concerteza iria se encantar ou ao menos respeitar o passado melhorando o presente. Abraço a todos.