sábado, 18 de agosto de 2012

"comigo não acontece"

Tem duas semanas que voltei à terra brasilis e durante esse tempo, trafegando com a Fat no trânsito carioca, percebi que cada vez mais se abusa da mobilidade da motocicleta no trânsito.

Talvez eu já tivesse me habituado com isso e viajando para fora e convivendo com outra realidade tenha me chamado mais a atenção, ou talvez tenha sido apenas uma piora dos maus hábitos, mas a realidade é que em duas semanas (onze dias usando a moto) eu vi dez acidentes com motocicleta, sendo um comigo que tombei com a Fat após a passagem por um "lago" de óleo diesel derramado pouco antes da praça Sibélius no sentido Barra da Tijuca (local de transito pesado aqui no Rio).

O meu tombo foi algo previsto por mim: passei pela mancha, senti o odor característico do diesel e infelizmente o sinal de trânsito fechou me obrigando a parar sem tempo de limpar a banda de rodagem dos pneus. Resultado: frenagem, travamento de roda e inclinação além do centro de gravidade e a queda logo em seguida. Por estar esperando algo assim não tive nenhum problema (dores musculares) e a moto precisou trocar buchas do riser por ter deslocado o guidão na queda.

Em cinco minutos, já estava de pé, a moto em pé e eu puxando o guidão para chegar em casa.

Esse foi um acidente previsto.

O problema são os acidentes que a gente já sabe que vão ocorrer e o piloto, seja por excesso de confiança ou por falta de experiência, não acredita que vai ocorrer e acaba no chão.

Nos dez acidentes eu vi três pilotos aguardando socorro médico pela gravidade da queda, seis pilotos (eu inclusive) sem gravidade e já arrumando a situação para seguir viagem e um acidente que já esperava acontecer e que se tornou realidade deixando a piloto no chão aguardando socorro médico.

Esse acidente em especial é que me levou a pensar como a galera se auto convence com a frase do título: "comigo não acontece". Era um acidente previsível devido à forma de pilotar que a colega tinha. Usando uma scooter, passando muito próximo dos carros e sem levar em consideração o que acontece em sua volta, a piloto da scooter passou uma Hilux pelo lado da sarjeta enquanto um moto taxi passava a mesma Hilux pelo corredor. Na frente da Hilux, um carro parava junto à calçada, na linha da sarjeta obrigando a scooter, que não via o moto taxi por conta da caminhonete, a fechar a Hilux e bater no moto taxi e caindo na frente da Hilux.

Provavelmente a Hilux chegou a colidir com os dois no chão pois estava desviando do carro parado também e o resultado foi a piloto imóvel no chão e o moto taxi levantando e seguindo o caminho apressado deixando o motorista da Hilux para se explicar quando a autoridade de trânsito chegasse.

Desculpem os colegas que acham que podem fazer de tudo no trânsito, mas não podem. Acidentes estão começando a virar rotina e deixam de impressionar exatamente por conta dos suicidas de duas rodas que acham que "comigo não acontece".

Se existe a necessidade conscientizar os motoristas sobre a presença das motocicletas, dando passagem e tendo maiores cuidados na troca de faixa de rolamento, além da costume que motocicleta freia mais rápido (entre outros detalhes), também existe a necessidade de se educar os pilotos/motociclistas/motoqueiros que o abuso terá sempre um resultado imprevisto. Abusar da mobilidade da moto, tentando ultrapassar outra moto dentro do corredor de carros (sim, eles fazem isso!), cortando sem qualquer aviso ou prudência, acelerando além do tolerável dentro do corredor e atropelando um pedestre irresponsável que insiste em atravessar a rua na frente de um ônibus, entre outras atitudes, é aumentar as estatísticas e tornar ainda mais negativa a imagem de um transporte necessário para uma grande metrópole.

Vamos começar a pensar que "comigo também pode acontecer" para tentar minimizar os resultados... comigo aconteceu esta semana e custou R$80,00 para trocar as buchas... com a menina da scooter aconteceu e provavelmente vai custar semanas ou meses de recuperação.

6 comentários:

Claudio Monnerat disse...

Caro Wolfmann, é possível supor que, com ABS, o travamento das rodas não ocorresse e o tombo tivesse sido evitado? Os automóveis a partir de 2014 serão obrigados a vir de fábrica com ABS. Esta lei deveria ser estendida às motocicletas, não acha?

wolfmann disse...

Claudio, eu acho que poderia ajudar a evitar o tombo, mas não seria o fator a evitar o acidente.

Na realidade, a roda travou porque o pneu não tinha aderência nenhuma por estar sujo e não houve atrito algum entre a superfície do pneu e o solo e talvez o ABS pudesse ajudar a achar alguma superfície limpa no pneu ou não.

Acho que o ABS é um equipamento muito interessante e faz bastante diferença em situações limites, mas dependendo da tecnologia empregada pode ser mais um problema a ser contornado.

O ABS das BMWs e Hondas tem ação conjugada nas duas rodas e consegue maior eficiência que nas HDs que não conta com essa tecnologia, mas mesmo esse ABS de ação conjugada consegue ser enganado por superfícies irregulares onde assume que existe um travamento quando na realidade existe falta de atrito pelo pneu se encontrar no ar e não no chão, e do mesmo modo quando se está inclinado na saída da curva e há necessidade de uma frenagem de emergência quando a roda não está na posição perto dos 90 graus.

Nas duas situações a ação do ABS em liberar as pinças deixam a moto sem ação dos freios e somente com habilidade se consegue evitar o acidente.

Na prática o ABS nas motocicletas não diminui o espaço da frenagem, mas mantém a ação do freio deixando a frenagem mais linear.

Acho que o ABS tem uma importância muito maior nos carros que nas motos pelo fato do carro não ter tanta variação do centro de gravidade como uma motocicleta.

O ABS ajuda, não tenho dúvida, mas não garante que não haverá problemas na hora de uma frenagem de emergência. Tenha sempre em mente que a habilidade e o reflexo do piloto sempre será necessária e que não existe equipamento capaz de garantir que um acidente não acontecerá.

Anônimo disse...

Hoje mesmo eu ia ao Rio, lá na loja da Harley no Recreio. Pensei bem, lembrei que iria passar na Linha Amarela, Linha Vermelha, trânsito da Barra, Washington Luis cheia de caminhões, etc, etc e desisti. Fui então à Itaipava, passando pela BR-495 e depois a 040, até Minas : Ótima escolha, só em estradas tranquilas e em bom estado. Passeio de moto é lazer, e lazer não pode ter estresse, perigo, etc. Rodar em trânsito urbano, nem pensar. Só em caso de necessidade. E lá se vão 36.300 bons Km.

Abraços.

Léoclima- Teresópolis

Bayer // Old Dog disse...

O pior é que aqui em São Paulo, cada vez mais encontro colegas agindo como cachorros loucos em Harleys também.

Colegas de Sportsters estão se gabando de "empurrar" motoboys no corredor. É mole?

Sexta dei passagem para um que insistia em acelerar atrás de mim, e não percebia que eu estava fazendo uma curva devagar no corredor pois havia areia no chão. Dei passagem e o sujeito perdeu a traseira, segurou a moto com a perna, que deve estar doendo até agora.

Triste ver que a civilidade não existe.

Anônimo disse...

"também existe a necessidade de se educar os pilotos/motociclistas/motoqueiros que o abuso terá sempre um resultado imprevisto."

Wolf, só uma correção, IMHO o resultado é PREVISTO sim.

Quinta passada, BR116 aqui em Porto Alegre, transito parado e um carinha de moto passando a 80 por hora. Claro que alguém ia mudar de faixa, e mudou, um Palio, a dois carros na minha frente. Culpa de quem? Sim, do Palio, nem seta deu, e sim, culpa da moto.

Agora pensando, a moto tinha que estar ali? Não, não tinha. Eu particularmente nunca ando em corredor. Se vou me atrasar pormfazer isso? Saio mais cedo. Coincidente comingo ainda não ocorreram acidentes, meus amigos andam no corredor, pergunta lá quantos já cairam?

Aqui em POA está tramitando uma lei que Prefeitura vai pagar o curso para motoboys. Vai resolver? Nunca.

No mais era isso.

[]'s Eduardo.

Unknown disse...

Wolfmann, muito bom post.

Creio que o autocontrole em cima de uma motocicleta é uma "luta" para todos os motociclistas.

Em todos os momentos precisamos nos policiar para não cometer imprudências iguais as que você relatou.

abraço