sábado, 8 de agosto de 2015

de volta a realidade brasileira

Pouco antes de viajar com a família para visitar a outra parte da família, Bayer publicou um post sobre o panorama que ele via na terra brasilis (http://olddogcycles.com/2015/07/ainda-vale-a-pena-andar-de-moto-no-brasil-ou-melhor-ainda-vale-a-pena-ser-brasileiro.html).

Eu concordo com a visão dele e nada confirma mais isso que voltar de férias.

Estive em Portugal, país pequeno que produz pouco e importa quase tudo. Um primo pobre na reunião de parentes ricos que é a Europa.

Passou por um crise econômica, vem fazendo os ajustes que o Brasil já fez na época da hiper inflação e começa a colher resultados. Ainda falta muito, mas vejo um panorama de evolução positiva no país.

Já na terra brasilis vejo um cenário de regressão agravado por uma crise moral. Num cenário onde a culpa da crise econômica é creditado a uma crise política ao invés de se combater os problemas de gestão que estão presentes no país e são disfarçados com todo o tipo de retórica para tentar justificar as escolhas da última eleição, nada se faz para buscar soluções realmente eficazes.

O país não vai mudar apenas com a troca da presidente (e não vejo razões jurídicas para as manobras que são feitas para um impeachment) e muito menos vai mudar se por um "milagre brasileiro" o candidato derrotado assumisse o governo. O país não é um time de futebol que está perdendo partidas e troca-se o técnico.

A falta de auto-crítica é total: brasileiro não conta derrota, e quando acontece alguma derrota a culpa não é dele, mas sim de terceiros que o estão boicotando. No país do "nunca antes" tudo são vitórias e os problemas são tentativas de golpe.

Não se trata de desmerecer as conquistas, mas sim de não esquecer as transgressões e buscar culpados para a devida punição: esse é objetivo da auto-crítica.

A solução passa pela educação do povo e não pela alfabetização funcional do povo ou pela chegada de mais alunos ao terceiro grau. A falta do exemplo doméstico deixa a população sem parâmetros do que é certo ou errado, acreditando em todo o tipo de bobagens que venha a ser publicada nas redes sociais.

A educação pelo exemplo é a principal diferença que vejo na comparação com Portugal, país que tem os mesmos problemas de tráfico de influências e corrupção, e apesar disso a impunidade não acontece. Pasmem: até o ex-presidente Lula vem sendo alvo de investigação por tráfico de influência na negociação que envolveu a Portugal Telecom nas privatizações das empresas de telefonia brasileiras.

É essa mesma educação que permite à motocicletas usarem a faixa de ônibus em nome da mobilidade urbana, que faz o carro parar na faixa de pedestre assim que o pedestre se aproxima do meio fio para atravessar e que permite ao cidadão entender que existem medidas a serem tomadas para chegar a um objetivo.

A perda da sensação de segurança social é o que mais incomoda na chegada ao Brasil.

E o que mais provoca a vontade de não continuar na terra brasilis.

5 comentários:

Bayer // Old Dog disse...

"O país não é um time de futebol que está perdendo partidas e troca-se o técnico."

Bela síntese da situação. E confesso que, bairrismo à parte, me incomoda profundamente quando eu ouço um brasileiro falar que Portugal está quebrado.

Portugal me parece que arregaçou as mangas e, como um povo, decidiram melhorar. Querem continuar sendo parte da União Européia, e reconheceram seus erros.

Já o Brasil parece estar ocupado arrumando culpados pelo que causou a si mesmo.

wolfmann disse...

Não podemos dizer que Portugal está quebrado, longe disso.

Mas também não é um país rico. Está fazendo o dever de casa, equilibrando a economia e absorvendo o que a Europa tem de melhor.

Se por aqui estivéssemos seguindo o mesmo exemplo, garanto que estaríamos no caminho certo.

Gabriel disse...

Wolfmann, gostei dos seus comentários e colocações. Equilibrado, sem soluções mágicas, como a simples troca de governante.

No entanto, é complicado comparar Brasil e Portugal, eles possuem apenas 10 milhões de pessoas, e tem uma cultura de imigração, se a situação não está boa, eles vão trabalhar em outro lugar, há portugueses em qualquer lugar do mundo praticamente, e isso não é de hoje é uma caracteristica histórica. Outra coisa é que eles não tem ou tem num grau muito menor a brutal diferença social que temos aqui, o desequilíbrio social aqui é imenso e é muito complicado crescer equitativamente, eles tiveram séculos de acumulação de capital e um período bom de usufruto do Estado de Bem estar social, ainda que baixo em comparação com outros países da Europa, enquanto que aqui nem sabemos o que é isso, recebemos pouco como contribuintes, saúde ruim, educação ruim, nenhuma segurança. E uma última coisa, não acho que eles apenas querem estar na UE eles precisam estar lá, Portugal é pequeno, importa muita coisa. Mas, sim eles se ajustaram e dentro do que é o papel de Portugal na economia européia estão se recuperando.

Para o Brasil "melhorar" realmente muito tem ou teria de ser feito, mas quantos estão dispostos a arregaçar as mangas nessa tarefa, quantos vão querer ceder pelo progresso do outro em nome da nação?

Enfim, desculpe por ter escrito muito mas fiquei pensando nisso quando li o post. No mais, concordo com tudo, inclusive com o comentário do Bayer.

Acompanho seu blog já a alguns anos e aprendo bastante com seus comentários, sua experiência. Parabéns.

Abraços

wolfmann disse...

Gabriel, apenas para pensar: quantos de nós conseguiriam arregaçar as mangas e trabalhar pelo Brasil?

Com a atual legislação eleitoral (e ontem o financiamento eleitoral privado foi aprovado) o cidadão só pode ser candidato se for filiado a um partido político, e mais: se o cidadão não for aprovado pelas comissões (leia-se os caciques do partido) não entrará na chapa a fim de participar da eleição.

E como um cidadão consegue ser escolhido para participar da chapa: sendo um puxador de votos e/ou trazendo um patrocínio forte que permita ao cidadão ser um diferencial dentro da eleição.

Ou seja, você promete aos seus eleitores, mas se o partido e/ou financiador te bloquearem na hora de cumprir a promessa nada acontece. Estará preso aos favores que foram concedidos a fim de participar da chapa.

Mas imaginemos que só a sua figura pública já te conceda a oportunidade de ser um diferencial na eleição e vários partidos estejam te procurando para ser membro e com isso você seja independente de favores: você vai precisar negociar para conseguir colocar seus projetos em prática e negociação envolve nova troca de favores.

Dentro dessa estrutura viciada qualquer boa intenção acaba sufocada.

Já vi vários amigos desistirem de carreiras políticas, de carreiras funcionais dentro do Estado e de responsabilidades junto ao público por não concordarem com a "política existente" dentro do órgão.

Ou se muda na raiz para que possamos nos permitir arregaçar as mangas ou seremos eterna massa de manobra, ora para um lado, ora para outro.

Portugal é pequeno, mas consegue arregaçar as mangas porque a política começa na Freguesia, estendendo-se ao Concelho, Distrito e País. O político está mais perto do eleitor.

Para terminar te respondo o seguinte: acho que muitos pensariam em ceder, outros tantos seriam convencidos a ceder e muitos cederiam de bom grado pelo progresso da nação se estivessem confiantes nos nossos governantes. Hoje em dia ninguém quer abrir mão por não ter a confiança de que sua concessão realmente chegará ao objetivo.

Quantos desastres naturais, quantas pessoas sofrendo e necessitando de ajuda e quantas pessoas/entidades se prontificam a ajudar e não conseguem a efetiva mobilização simplesmente pelos exemplos divulgados de desvios e má versação das contribuições.

Eu sei de várias pessoas, com credibilidade pessoal acima da média, que conseguem mobilizar as pessoas para um objetivo, mas até essas pessoas estão decepcionadas com os resultados que conseguem e a falta de resultados quando são obstaculizadas pela estrutura atual, e acabam desistindo de trabalhar por um objetivo.

Nossa crise não é de esperança: é de credibilidade.

Gabriel disse...

Sim, com certeza o problema é muito maior, é a própria estrutura e a maneira como ela supostamente funciona que esta errada. Tanto a discussão, como a tomada de decisão está distante das pessoas, por outro lado não creio que elas queiram participar ou realmente se envolver, enfim, é complicado. E creio que não seja um problema apenas nosso, embora estejamos mesmo em uma crise.