Eu recebo muitos comentários que não considero pertinentes com o post e não publico. Nesses comentários vem perguntas do tipo: "devo ou não entrar para o motoclube?" ou "vale a pena ser membro do HOG?" ou ainda "o que um biker como você está fazendo no meio dos coxas?".
Viver em duas rodas tem muito a ver com a sua identidade. Tem muitos que se identificam com a imagem, outros com o compromisso com o grupo que elegem como família. Eu me identifico com aqueles que gostam de partilhar o prazer de não ficar preso a roteiros, imagens ou grupos.
Nunca cogitei em entrar para um motoclube porque não tenho o perfil necessário para viver o motoclube. Uma pessoa que quer pertencer a um motoclube sabe que terá pela frente o compromisso com os irmãos de clube, um compromisso que não pode ser deixado de lado porque aquele grupo existe para viver esse compromisso. É mais que uma religião ou uma família: é viver uma tradição e perpetuar essa tradição. Quem não entende isso não consegue viver nesse grupo. E por extensão, não existe "motoclube tranquilo" ou "motoclube sem muitas regras", até porque um motoclube tem suas regras de convivência que podem ser duras ou não, mas precisa necessariamente se basear na tradição de um grupo coeso, que passa a sua união para os mais novos e não pode aceitar ninguém que não se comprometa com o clube.
Meu perfil é de um comprometimento com minha família e meus amigos, que não pertencem necessariamente a um clube. Eu não me incomodo de ensinar ou auxiliar um colega mais novo e dou a ele o mesmo respeito que dou a um colega que me ensinou o que estou passando para o novato agora. Não havendo isso, não haverá amizade e sem amizade não vou perder meu tempo tentando ajudar quem não dá valor a isso. E nem sempre no clube você terá somente amigos e você vai ter de conviver com esses colegas, o que não me interessa.
O HOG, pelo menos o Chapter carioca, é uma associação de grupos que se relacionam conforme suas conveniências. Não existe compromisso com uma união entre seus membros e quando há algum fato que sensibilize a maioria de seus membros, age como se fosse um grande grupo. A solidariedade que recebi na época do acidente da Silvana são um bom exemplo de como o HOG consegue agir como um grupo coeso. A movimentação para os eventos HDMC são outro bom exemplo. Mas passeios organizados semanalmente nem sempre conseguem motivar os membros do HOG a agir como um grande grupo, simplesmente porque o passeio pode não interessar, algum amigo decide não ir por conta de algum problema particular e o outro decide não ir também porque não encontrará nenhum conhecido no meio dos novatos e assim por diante. O HOG, ao contrário dos clubes, não força convivência entre seus membros e nem exige comprometimento com a associação: vai quem quiser, o encontro semanal do café da manhã vale para ver quem vai para a estrada e se vai com o HOG ou sai sozinho ou mesmo fica zanzando pela cidade apenas para mostrar o acessório novo. O não compromisso para com o HOG permite que você se dedique aos amigos que você tem no HOG ou que apenas frequentam o HOG.
Já vi grupos dentro do HOG formarem motoclubes que se fortaleceram na união do grupo menor, já vi colegas de HOG que ingressaram em motoclubes e acharam seu lugar e da mesma forma vi motoclubes que nasceram sem o comprometimento necessário com o grupo e simplesmente desapareceram e colegas que perceberam não ter o comprometimento necessário com todos no clube e não foram aceitos ou entregaram o colete.
Por isso me identifico com o HOG e não com um motoclube em particular: meu perfil é de comprometimento com as pessoas e não com o grupo. Isso me permiti ir aonde sou convidado, rodar com quem me permite e conviver com aqueles que gostam de conviver comigo.
Usar um colete sem se identificar com o escudo é algo que não se pode tolerar. Muitos desvirtuam o uso do colete com o objetivo de serem aceitos como "motoqueiros durões" e muitas vezes não rodam nem até a esquina de casa.
Eu uso o colete do Chapter RJ por me identificar com o esse Chapter do HOG. E uso sempre que acho necessário ser reconhecido como sendo membro do HOG, em especial do Chapter RJ. Se não julgar necessário deixo em casa porque não tenho compromisso com o HOG, como teria se fosse membro de um clube. Essa liberdade de usar quando acho necessário define a minha vida em duas rodas: livre escolha.
Livre escolha para usar o colete, para andar de moto quando quiser, para cuidar da moto da forma que achar melhor, colocar na moto o que achar que preciso, rodar com quem eu quiser, passar a experiência adquirida para quem tiver curiosidade e mostrar respeito para quem me respeitar.