quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Harley a mais de R$100.000: quem vai comprar?

Com a nova tabela, mesmo que ainda não esteja sendo praticada pelos dealers, o que mais é lido nos grupos e fóruns de proprietários é que a HDMC Brasil não sabe o que faz, que os preços estão "abusivos" e que o próximo passo da marca no Brasil vai ser "entrar no avião e voltar para os EUA".

Antes de qualquer opinião sobre a estratégia da marca, seja nos EUA ou no mercado internacional, vale a pena lembrar o básico da economia de consumo: ou você vende muito com uma margem de revenda pequena que se traduz em preço menor, ou você vende menos (não é vender pouco, mas vender menos quantidade) com uma margem de revenda maior que se traduz em preço maior.

A HDMC teve uma estratégia de buscar novos consumidores, oferecendo novos produtos e tentando universalizar sua marca através do aumento de vendas. Essa estratégia não funcionou, a marca apresentou prejuízos em seu balança trimestral e causou a queda do CEO responsável por essa estratégia.

Como qualquer empresa, a HDMC visa o lucro para seus acionistas e mudou o CEO que apresentou uma estratégia bem diferente: apostar nos produtos tradicionais, agregar valor ao produto pela tradição da marca e aumentar a margem de revenda.

Essa estratégia vem sendo aplicada ao longo da pandemia (que ofereceu uma oportunidade de causar escassez sem que a marca fosse taxada de aproveitadora pois as fábricas precisaram fechar por conta da pandemia) no mundo inteiro.

Como parte dessa estratégia de agregar valor é preciso causar escassez do produto para incentivar a demanda, mostrando que a marca oferece uma exclusividade que se traduz no preço mais alto.

A escassez do produto aumenta a demanda e com a demanda em alta se justifica o preço mais alto.

Se comparar os preços em dólar e fizer a conversão direta (sem pensar em impostos de importação e circulação de mercadoria) os preços brasileiros não são muito diferentes dos preços norte-americanos e por isso estão dentro da realidade da marca para o mercado internacional.

E nisso entramos na segunda parte do problema: os valores de tabela não são preços diferentes do preço internacional, mas como muita gente não consegue comprar,  a marca ganha o adjetivo de "louca". 

Na realidade o problema não é apenas o preço internacional praticado no Brasil, mas sim a queda no poder aquisitivo do consumidor brasileiro.

Ou seja, não é a HDMC que cobra muito, somos nós que ganhamos pouco.

A HDMC Brasil não parece que vai sair do radar da HDMC USA: mesmo com o volume de vendas no varejo caindo, não vi reclamações dos dealers que apostaram na nova estratégia da HDMC (lembrando que a HDMC deu opção ao dealers de continuarem na rede), ou seja, estão dentro do esperado e, depois de dois anos encolhendo, a HDMC traz novos modelos mostrando que existe interesse no mercado brasileiro, mesmo que tenha encolhido.

Não imagino qual serão as metas para 2022, mas eu acho que a marca vai explorar novos mercados com a Pan America no segundo semestre e movimentou bem o mercado no primeiro semestre com o anúncio do M8 117 na Low Rider S e a volta da CVO.

Resumindo: HD zero vai ficar difícil de ser comprada, mas ainda vai ter muita gente que vai tirar o escorpião do bolso para comprar. Resta saber se teremos interessados suficientes para cumprir as metas da marca para o Brasil. Eu aposto que sim.

Um comentário:

Roque disse...

Concordo com seu raciocínio. A HDMC era uma operação pequena e mal feita pelo Grupo Izzo. A fábrica assumiu, chegou a anunciar que ia vender 15.000 motocicletas por ano (veja minha postagem de 30 de abril de 2012). Abriram várias concessionárias, do Ceará ao Rio Grande do Sul. O resultado nunca aconteceu. O mercado é pequeno para valores tão altos. 12 anos depois, a HD do B é menor do que era. As estratégias não funcionaram até agora. Nenhuma delas.