quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

impressões do Bira sobre o test drive da Heritage

Montei na Heritage na metade do trajeto. Confesso três coisas que no show room não me agradaram: o banco (que também me passou impressão de ser pior que o da Heritage antiga que eu uso na Deluxe), o pára-brisas "meio preto" e a falta do sissybar de fábrica que sempre veio nelas. Digo que após o teste, apenas a retirada do sissybar de série continua sendo "bola fora" pra mim.

Em que pese a pequena diminuição de volume em relação aos alforges da Heritage antiga (ainda menores quando comparados aos meus Boss Bags da Deluxe), gostei do novo sistema rígido com chave. Outra coisa interessante dos alforges da Heritage 2018 é o braço de fixação ao quadro: é um "gancho" igual ao da Sport Glide (veja os vídeos reviews na Internet mostrando o sistema de desencaixe rápido dos alforges da Sport Glide), ou seja, não deve demorar muito para que alguém invente um sistema de engate rápido para os alforges da Heritage (substituindo os parafusos torx que os prendem às espadas). 

Sobre o banco: no "teste-bunda" na concessionária ele me pareceu meio esquisito e até pior que o antigo, mas essa impressão some TOTALMENTE quando você anda com a moto e sente o conjunto todo trabalhando com a suspensão nova. Primeiro, porque o novo banco na verdade tem uma espuma MUITO BOA, parece que você está flutuando sobre uma camada de gel. Ele absorve muito bem as imperfeições do asfalto (principalmente junto com o novo conjunto de suspensão, que está irrepreensível). A comparação inevitável seria não com o banco da Heritage antiga (que é mais duro), mas com o da Indian Chief, que é muito parecido nesse ponto (macio sem ser molenga). Segundo, ele encaixa muito bem. A única coisa que não gostei do banco novo foi a garupa, o da Heritage antiga avançava um pouco mais sobre o do piloto de forma a dar um certo apoio lombar, coisa que não acontece na nova (mas logo logo alguém do aftermarket resolve isso, seja o Pedrinho com um banco de garupa mais "rechonchudo", seja o pessoal da Wings Custom com um encosto para piloto). Mas mesmo com esse detalhe, eu posso dizer com propriedade que, excluídas as Tourings (na verdade delas a única que pilotei foi uma Road King 2014), a Heritage 2018 é **por larga margem** a moto mais confortável que eu já pilotei, incluindo aí a minha que tá toda trabalhada pra isso (e está com o guidão bem parecido com o da Heritage). A Heritage sempre foi a Softail com a ergonomia de fábrica mais irrepreensível e essa característica foi mantida (e melhorada) na nova. 

Foi eliminado o passador de marcha do calcanhar no modelo novo, sim. Mas não senti a menor falta dele (na minha eu uso ele direto). O câmbio repete a maciez e precisão da Fat Bob, mantendo aquele "clanck" característico das HD. Curiosamente achei o acionamento da embreagem da Heritage mais leve que o da Fat Bob (e mais leve que o da minha TC com Easyboy). 

O quadro de instrumentos da Heritage, diferente do da Fat Bob, não possui conta-giros analógico. O mostrador principal é o velocímetro, e no digital temos o indicador de marcha (sempre visível), o marcador de combustível (idem),e as funções trip A, trip B, autonomia e conta-giros digital. Senti falta (tanto na Heritage quanto na Fat Bob) de uma luz mais "chamativa" para indicar a sexta marcha (mesmo com o indicador de marcha sempre visível), mas acho que é questão de hábito. O visor LCD é bem visível sob qualquer condição de iluminação, mesmo com luz solar direta. O marcador de combustível "antigo" (na tampa falsa do lado esquerdo do tanque, aquele que não podia ver umidade que embaçava) não existe mais, agora só uma tampinha falsa ali.

Ao contrário do que se pensa, a Heritage não é 100% dark. Ela possui VÁRIOS detalhes cromados. Cito alguns: os escapamentos e ponteiras; o riser e tampa do riser; as tampas do tanque (verdadeira e falsa); os frisos dos pára-choques; os aros dos faróis; a barra de luzes traseira; o acabamento da lanterna traseira; os raios; a armação do pára-brisas. O visual ficou bem balanceado entre dark e cromo. E antes que vocês digam que "uma clássica tem que ter cromado, mimimi", tinha várias HDs FL dos anos 40 que usavam e abusavam dos detalhes pretos. Eu gosto muito de cromado, mas gostei do acabamento da nova moto. Outra mudança de paradigma pra mim foi quanto à pintura fosca, outra coisa que eu nunca fui muito fã (ainda que tenha tido duas motos assim): a pintura em Industrial Gray Denim/Black Denim ficou muito bacana. Só acho uma pena que a HD não traga para o Brasil as outras cores do catálogo americano, como a "vermelho ferrugem" (que esqueço o nome comercial, a mesma cor da Bob que pilotei) e o verde. 

Outro detalhe legal é que a barra de luzes traseira tem um espaço certinho pra esconder uma luz de placa, facilitando a vida daqueles que (como eu) preferem a placa montada abaixo das setas (pra liberar espaço para um bagageiro). 

Voltando ao test-ride. O ajuste da suspensão da Heritage é um pouco mais voltado ao conforto que na Fat Bob, mas ainda assim a moto passa muita segurança nas curvas e imperfeições no asfalto. O freio é tão bom quanto o da Bob (e muuuuuuuuuuuito melhor que o da minha 2014). Outra coisa que me agradou um bocado foi o "cruise control", puta troço útil na estrada. 

O pára-brisas "meio preto" ao contrário do que eu imaginava, não atrapalha na visibilidade. Pilotando a moto ele não parece tão esquisito, dá pra conviver (mas ele ainda me parece fora de propósito quando olho a moto de frente). Mas eu talvez o trocasse por um degradê da Memphis Shades (que também seria um pouco mais alto), o bom é que eles vendem na JP Cycles só o policarbonato de reposição para o pára-brisas OEM. 

A pequena diferença de peso (17kg) parece insignificante mas na hora de estacionar a moto de ré fez TODA a diferença. Mais um ponto para o novo projeto.

Veredito: QUERO UMA! Agora, falando sério: a nova Heritage ficou SENSACIONAL e faz jus ao que o modelo sempre foi: uma versão da Softail já pronta para estrada mas que também vai bem na cidade. A ergonomia continua irrepreensível, as melhorias mecânicas foram MUITO bem vindas. Novamente ressalto a questão da temperatura do motor que é uma das coisas que sempre me chateou na minha 2014, desde que eu a peguei, e que tira um bocado da satisfação em pilotar a moto. Quanto à estética, é questão de gosto pessoal, eu não vou dizer que a nova Heritage é mais bonita que minha Deluxe porque eu estaria mentindo  [blush] [blush] mas ela não é feia. É uma moto bonita sim (faltam poucos ajustes pra que eu passe a considerar "muito bonita"), apenas diferente do que eu estou acostumado. Funcionalmente é perfeita, e está dentro do que eu procuro para a minha próxima moto: uma moto em que eu não precise gastar muito com acessórios. Cheguei a pensar numa Road King Special, mas depois de andar na Heritage desisti da idéia: ela é meu número, qualquer coisa acima disso é exagero pro meu perfil de uso. Por mais que eu ache meio "forçado" pagar mais que uma vez e meia o valor da minha moto atual (foi isso que eu fiz quando saí da Sportster pra Deluxe), eu confesso que faria isso.  Posso dizer com segurança, que se o momento econômico fosse propício pra fazer um carnezinho eu já estaria assinando o contrato. Como não sou doido, não fiz isso, mas entrou nos planos para o futuro.

Sei que vai ter muito tradicionalista que vai torcer o nariz, e vai ter muita gente que vai andar nas motos novas, vai achar elas sensacionais e vai deixar de torcer o nariz, e vai ter gente que vai andar nelas, vai gostar, e vai dizer que não gostou só pra ser do contra. Mas digo pra vocês: chamar as novas Harleys de "Honda-Davidson" é uma baita injustiça. Continuam sendo Harleys, mais "afinadas" mas ainda Harleys. 

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